quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O QUE ACONTECEU COM OS BAILES COUNTRIES por Sergio Hoch Jr.


Olá, pessoas.


Já fui colunista de outro site e confesso que é um grande prazer poder compartilhar um pouco do meu conhecimento e da minha experiência no mundo da música country, principalmente de São Paulo.

Gostaria, para quem não me conhece, de apresentar minhas “credenciais”, se assim podemos chamar.

Fui, com muito orgulho, durante 5 anos, vocalista da extinta banda Blacksmith, que tanto bem fez ao meio country.

Hoje alterno entre participações com outras ótimas bandas (Hillbilly, Redneck, Akavalarya, Red Fox, entre outras) e com o recente projeto que uniu integrantes e ex-integrantes de três bandas, o projeto HillBlackNeck, que agora passa a se chamar COUNTHREE, onde divido o palco com músicos maravilhosos, e os vocais com a incomparável Quésia Nunes (banda Redneck) a melhor vocalista deste gênero no Brasil, até que me apresentem outra melhor.

Sou compositor também. Tanto de músicas em inglês, quanto em linguagem nacional e arranho “malmente” um violão.

Bem, feitas as apresentações, vamos à pergunta que vale 1 milhão: o quê aconteceu com os bailes countries?????

Resposta: eles continuam acontecendo…

Nova pergunta, agora de R$ 0,50: Como?

Com muito SERTANEJO UNIVERSITÁRIO…

A MATÉRIA É LONGA, MAS VALE A PENA LÊ-LA PARA TENTAR ENTENDER COMO TUDO ACONTECEU.

Não deu pra resumir…

Quem quiser parar por aqui e perdeu a coragem de ler porque achou grande e chato demais, eu resumo da seguinte maneira:

- O QUE MANDA É O DINHEIRO;

- O MEIO COUNTRY É DESUNIDO DEMAIS E TEM MUITO “ESTRELISMO”;

- AQUI NÃO É O TEXAS E NEM O TENNESSEE…AQUI É BRASIL!!!

Então, vamos direto ao ponto. Há muitos anos os promoters e donos de casas se apropriam da palavra “country” para divulgar suas festas regadas apenas com música sertaneja.

Talvez não fique bem colocar “sertanejo” ou “caipira” no sites, flyers e cartazes…Sei lá…O fato é que já é uma cultura enraizada nas baladas em geral.

Então deixemos isto de lado.

Portanto vamos falar dos “reais” bailes com música e bandas de country… O quê aconteceu com eles?

O convite para que eu participasse como colunista do UC, aconteceu depois que coloquei minhas opiniões sobre este assunto em um tópico na comunidade COUNTRY MUSIC BRASIL (aliás, um dos últimos refúgios para quem realmente gosta de falar e debater sobre música country).

Escreví com um pouco de pressa e confesso que talvez não tenha colocado detalhadamente e em ordem, tudo o que gostaria. Então vamos organizar as idéias…

A primeira coisa que temos que ter em mente é que country não é música brasileira. Não é música nacional.

Ela não é divulgada nas grandes mídias brasileiras, não tem um grupo unido sobre ela, tem a barreira da língua e esporadicamente tem uma Taylor Swift que é conhecida da nova geração de consumidores, como foi a nossa recém aparecida Shania Twain, nos anos 90.

Isso é muito importante para se lembrar, se formos pensar globalmente.

Mas vamos pensar apenas em como o country foi perdendo o espaço que tinha, que já era bem pequeno. Bem perto de nós, diante dos nossos olhos.

Sabem quem eu elejo o primeiro culpado pelo fracasso que os bailes countries têm tido?

Você!!! Sim, você, meu caro amigo e leitor!!!

Bem, não me olha desse jeito. A matemática é muito simples: CASA NOTURNA + MÚSICA CONTRY – PÚBLICO DE COUNTRY = PREJUÍZO. Bem simples!!!

Sim, amigo. Você já se perguntou porque você sumiu da balada?

Então, enquanto você se justifica com respostas como: “casei”, “to namorando e minha namorada não curte balada country”, “nasceu meu filho(a)”, “agora só toca sertanejo na balada” ou o famoso “não vou para a balada para ver a banda “X” ou “Y” tocar aquele repertório que eu já estou cansado de ouvir”, saiba que centenas de outras pessoas também têm justificativas parecidas.

Então podemos concluir que o público que curte música country, que nunca foi muito grande, diga-se de passagem, desapareceu e as casas perderam o interesse em colocar o gênero.

Claro, casa noturna é uma empresa como qualquer outra, com empregados para pagar, impostos à recolher e visa o lucro.

Para que tocar um estilo musical que não leva nem mais o seu público, que se entitula fiel?

Não faz o menor sentido para alguém de inteligência mediana. Não precisa ser gênio…

Sem público, ou sem demanda, não rola a grana, a bufunfa, o cascalho, o courinho de rato, o faz me rir, la plata…ah…vc já entendeu, né?…

Mas alegre-se e pare de me xingar… O público não desapareceu por acaso. Existem alguns motivos que geraram um verdadeiro “círculo vicioso” que deixarei para enfatizar no final da matéria.

Vamos expôr os motivos aqui por alguma ordem. Talvez de importância, segundo meu entendimento…rsss

Sertanejo Universitário:

Olha, na minha opinião, o que era para ser um grande aliado do country, acabou se transformando no grande vilão.

O fato é que com o boom do novo sertanejo (o qual, com muita habilidade, foi criado através do DNA do sertanejo, do pop e do axé, e que deu uma combinação perfeita para o público de balada) muita gente quem nem sonhava em ir na balada sertaneja começou à frenquentá-la. Virou a bola da vez e hoje é a nova moda.

O country poderia ter usado isso como aliado para fazer o público da balada também entrar na mesma onda e gostar da nossa música, mas não tivemos competência para tal, pois já vínhamos “mancando” das pernas há um bom tempo, vivendo do fato de não ter música boa e dançante na balada, vinhamos reinando há alguns anos, sem muita renovação de bandas, repertório e dj´s.

Na mão contrária, existiam montes de duplas sertanejas sedentas de sucesso, caindo pelas tabelas e sem shows, que aproveitaram bem essa oportunidade e hoje têm agenda cheia, chegando à fazer 6 shows por semana. Ter dupla ou empresariá-los, hoje em dia, se tornou um negócio. E bem lucrativo.

Sem problemas…é natural que uma música do próprio país, na sua lingua nativa seja sucesso.

Ou como ouví outro dia em algum canal de TV “ o Brasil não é o país do samba. É o país do sertanejo”. O samba só tinha mais marketing nas grandes mídias.

Sertanejo é a música da massa e com o pop e o axé no cardápio, se tornou a música da balada do Brasil, junto com o funk carioca (que particularmente não gosto).

Resumindo este tópico: o novo sertanejo substituiu uma lacuna de música dançante na balada country e sertaneja, antes ocupada pelo country, que não é “brega” e de mal gosto. Pelo contrário, é alegre e tem letras que grudam na mente.

Público de country, grupos de dança e comitivas:

O idiota que quiser dizer que eu sou contra, ou estou criticando uns e outros, tem o direito de falar, mas lembre-se que eu conitnuo te acho um idiota, de qualquer maneira. Não se trata de criticar e nem sou contra nada, mas sim de passar o que eu constatei inúmeras vezes. Sou democrático e respeito os gostos, crenças e a liberdade de cada um.

Bem, o público de country tem, como vou dizer, vários vícios e manias…

O primeiro é achar que balada country não é lugar de “abeia”… Bem, eu tenho nojo dessa máxima…

Quem de nós nasceu no Texas? Quem de nós levou o gado pela planícies americanas? Quem de nós foi campeão de rodeio nos EUA (exceto o Adriano Moraes e o Guilherme Macchi, que provavelmente não lerão esta matéria)? Então quem de nós não é “abeia” (aliás o que tem haver abelhas com gente de fora do country???)???

As pessoas que não são do meio nunca foram bem tratadas pelas pessoas envolvidas no country. Nem pelos contratates, tenho que dizer. Já ví coisas de arrepiar os cabelos do dedão…

Ainda outro dia eu conversei com um rapaz na porta do Clube Hortência (a melhor balada genuinamente country que ainda temos em Sampa), que estava indo pela segunda vez à uma balada country e conseguí com que ele se abrisse sobre o que sentiu a primeira vez que foi.

Ele me passou todas as sensações que sente alguém que chega pela primeira vez nessa balada.

Disse que achou as pessoas pouco dispostas à fazer amizade, pouco receptivas e com aqueles olhares de menosprezo e desaprovação, tradicionais para um cara que estava ali e dava pinta de ser “peixe fora d’ água”.

Aí perguntei porque ele voltou e a resposta me chocou: “Porquê gostei da música”!!! Pasmem, música é bem aceita!!! Então tem mercado e tem público??? Claro que tem…

Outra coisa que constatei junto aos donos de casa é que pelas pessoas de sempre frenquentarem muito as baladas de sempre, todas se acham VIP´s. Ou seja, não querem mais pagar entrada e muitas vezes nem para beber.

Comitivas não querem pagar e querem garafas de bebidas de brindes, muitos grupos de dança também e frequentadores antigos já disseram na minha cara: “você acha que eu vou pagar para entrar em balada country???”. WTF???

Agora me explica como uma casa noturna pode pagar suas contas, seus empregados, seus DJ´s e as bandas, se ninguém mais quer pagar para entrar na balada?

Outro problema grave que detectei é a animosidade e a competitividade entre alguns grupos de dança, algumas comitivas e algumas outras panelinhas (quem frequenta sabe do que eu estou falando) em relação, não só às pessoas de fora, como entre eles mesmos.

Agora me fala, como pode um grupo tão restrito e diminuto ser tão desunido??? Parece aquele jogo de futebol de uma torcida só, mas que os torcedores do próprio time, mas de organizadas diferentes, se matam de pancada para provar algo. Mas no caso do country as disputas não se resolvem na pancada…às vezes sim…

Infelizmente, pessoal, nosso próprio público matou nossa balada aos poucos.

Não houve a renovação necessária para manter a chama acesa e a demanda aquecida. Nós precisávamos ter tratado bem os curiosos que vinham sondar o que era a balada country, mas eles não se sentiam à vontade.

Pena que normalmente eles vinham apenas a primeira vez e não voltavam, à não ser se fossem “apadrinhados” por alguém já conhecido.

Se você se encaixa, pensando intimamente, num desses perfís, não reclame. Você ajudou a matar a balada country.

Bandas ruins, bandas desmotivadas e bandas no desmanche:

A grande referência do público de música country hoje é a internet… Sim, mas essa é virtual… E nem sempre foi assim.

A outra grande referência das pessoas são as bandas de música country. São elas e os DJ´s que ditam o caminho das pedras…E olha que num universo musical, arrisco até a dizer brasileiro, não devemos passar de 20 ou 30 bandas… E boas então….??? Xiiii…Deixo para vocês fazerem as contas…

Mas boas ou ruins, ainda é muito pouco…

No fluxograma que exemplificarei mais tarde, as bandas têm um papel muito grande na baixa do country.

No segundo boom do country (o primeiro foi na época do finado Hollywood Project), por conta da novela América da Rede Globo, muitas casas resolveram fazer as famosas quartas, quintas, terças countries… As bandas, de uma hora para a outra, viram suas agendas lotadas e qualquer boteco querendo contratar.

Bandas tocando de quinta à domingo era perfeitamente normal.

Com isso, além das boas bandas que já existiam, algumas outras surgiram, com pior qualidade, porém ainda satisfazendo uma demanda grande e crescente.

Quando o boom, que durou uns 2 anos, acabou, já houve uma “peneira” natural. Com isso muitas bandas que não eram tão boas e sem história, foram automaticamente terminando ou tocando muito pouco, respirando apenas por aparelhos. E o tempo passou. As coisas não melhoraram. Nada foi feito. Mas todo mundo achava que tinha a solução…

Com o fim das vacas gordas, os cachês estacionaram ou diminuíram. Os bons músicos, e principalmente os músicos que viviam apenas da música, começaram à migrar de estilo, indo principalmente para o sertanejo ou parando de vez para se dedicar às suas carreira ou novos empregos, pois a paga da noite que já não era muito boa, ficou pior e em pequenas quantidades, pois a quantidade de shows começou à cair muito.

Bandas que faziam média de 8 ou 9 shows por mês, viram despencar para 3 ou 4, se muito repentinamente. Os rendimentos dos músicos caíram praticamente pela metade.

Com cachês baixos e estacionados, e músicos saindo, as bandas se desmotivaram e muitos que ainda queriam e podiam viver da música que ainda ficaram, optaram em dar prioridade para seus projetos antes chamados de paralelos ou secundários, como bandas de baile, bandas de pop rock, casamentos, etc…

Com isso os repertórios também estacionaram e os shows ficaram fracos e repetitivos, chegando o público à reclamar que sabiam até a sequência de músicas, tamanho o desleixo das bandas através dos anos.

Na sombra desses acontecimentos, surgiram algumas bandas de qualidade duvidosa…não, não…ruins pra caramba mesmo, que acabaram de vez com a qualidade do country.

Bandas que surgiram sem saber direito em que fonte poderiam beber, sem conhecer muito bem sobre country music, exibiram projetos esdrúxulos que não tiveram resposta, nem eco junto ao público. Foram só motivo de chacotas e piadinhas por tudo que fizeram ou não… Pena que a graça acabou aí.

Bem, outras bandas, como a minha, acabaram pelos motivos acima: poucos shows, desmotivação, atritos gerados pelos problemas que surgiram pela falta de perspectiva e tendo que chamar músicos de freelance para tapar buracos de músicos da formação original que saíam para tocar outros estilos e ganhar mais dinheiro, tirando o prazer que a banda tinha de tocar junta e completa. Virou algo mecânico, para cumprir a agenda. E a qualidade também caiu.

Bailes e festas mal elaborados e mal divulgados:

Colocar uma banda country no palco e deixar que o povo venha….

Sim, pessoal, essa foi a tônica de muitos contratantes. “É a banda tal….tem que dar público!!!”.

Houve uma terrível inversão de valores. Não era mais a casa que tinha que trazer o cliente e apresentar um bom espetáculo, mas a banda tinha que trazer o público, chegando a ouvir do contratante: “ah, se continuar assim vou ter que diminuir o cachê de vocês. Vocês não estão trazendo o público que eu esperava”.

Então a banda ficou ruim, de repente? Hahaha…Claro que não… Mas alguém tem que levar a culpa. Que seja a banda, então…

A banda que vai tocar tem que ser apenas um dos fatores de decisão do cliente. Não o único e nem o principal.

As casas colocavam no Orkut, Facebook, Twitter, entre outros, faziam aquele padrão de 2.500 flyers, que eram pessimamente (e continuam sendo) mal distribuídos e achavam que tinham feito a divulgação… Ledo engano.

São Paulo, que é onde eu resido e toco mais, tem uma noite que parece infinita. Desde as luxuosas casas dos Jardins até os botequinhos da periferia, sempre tem gente, sempre tem música e sempre tem balada.

Se você quiser sobreviver neste mundo, tem que ser melhor que os outros. Seja pela qualidade, seja pela divulgação, diveresificação ou seja pelo preço da cerveja. Enfim, você terá que se diferenciar neste mundo da noite sem fim e eclética de São Paulo.

Quando se fala de público de country, falamos de um reduzidíssimo número de pessoas, porque ao contrário do que possa parecer, coloco o country na mesma categoria dos estilos cults como jazz, blues, zouk, entre outros. Aqui não são os Estados Unidos… O country é relativamente novo e desconhecido para a maioria de nós.

Pegue esse público e tente dividir entre as casas, diminuindo aqueles que não vão para a balada country porque têm um aniversário, casamento, formatura, estão doentes, arrumaram uma companhia do sexo oposto, entre outras prioridades… Quantos sobram? Enche duas casas?? Talvez…

Outro engano que se comete é achar que todo mundo que gosta de country só vai em balada country… Não se enganem… Temos muita gente que é “baladeira”. Onde tiver a melhor balada ele está lá…

Essa galera vai pro samba, vai para o tecno, vai para a balada GLTB e muitas outras… Nem só de country vivem os cowboys e cowgirls tupiniquins…

Então, resumindo, os promoters e proprietários de casas noturnas, terão que rever seus conceitos e desenvolver festas que atraiam mais o público que gosta de country, com renovação e qualidade.

Bem, ficou muito comprida esta matéria, mas como disse no início, não dava pra resumir com o risco de perdermos o famoso fio da meada…

Prometo que nas próximas eu serei mais prolixo…

Agora vou fazer a tão comentada “bola de neve” ou círculo vicioso que entramos. Lá vai:


Galera, desculpem ter me estendido demais, mas se fazia necessário, para não pular nada ou passar de qualquer jeito.

É isso que penso e você não precisa concordar. Mas vem de alguém que viveu o meio intensamente nestes últimos 6 anos como músico e líder de banda, e nos últimos 15 como cliente e consumidor.

Espero escrever mais para vocês e vir com assuntos mais amenos e agradáveis.

Forte abraço e faça aquilo que estiver ao seu alcance para que possamos, juntos, salvar o pouco que nós conquistamos.



Country Every Fucking Single Day!!!

Sergio Hoch Jr.

junior3h@hotmail.com

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